quinta-feira, maio 19, 2011 -
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BBB: show de banalização
A qualidade da programação da TV aberta brasileira é bastante discutível, pois está recheada de programa sensacionalista, exibicionista, que explora a sexualidade, por interesse mercadológico, agredindo os valores éticos, sob o pretexto da liberdade de expressão. O “carro chefe” é o reality show (de quê?) Big Brother Brasil da TV Globo.
O modelo de programa tem uma narrativa de novela com roteiro, elenco (escolhido por qual critério?) romance, vilões e “heróis”, e tem um diretor (Boninho) ordenando o que pode ou não fazer num determinado momento, como mostra alguns vídeos vazados no youtube. Ou seja, os participantes são manipulados. Os brodhers e as sisters têm de concorrer entre si por um prêmio milionário, encarando provas humilhantes: horas sem beber água, sem comer, sem fazer as necessidades fisiológicas, enquanto promovem uma marca de carro, de detergente, de cartão de crédito, de xampu, de refrigerante... A mershandisg é uma estratégia marcante da publicidade no programa. Outra questão não menos intrigante é a contagem de votos: quem garante que os votos são destinados realmente para tal participante?
Os participantes convivem “enjaulados num zoológico humano divertido”, segundo o conceito do apresentador Pedro Bial (competente jornalista), o “domador” dos confinados. No programa exibido em horário nobre, não há incentivo ao conhecimento intelectual, à musica, à criatividade. Ao contrário, vê-se apologia ao alcoolismo, a promiscuidade, e na suposta tentativa de combater o preconceito contra trans/homossexuais, nordestinos e semi-analfabetos, acaba o disseminando. A classificação indicativa é para 14 anos, mas o horário é acessível para criança e passa cenas para maiores de 18. A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão recebe todo ano centenas de reclamações contra o programa, como homofobia, incitação à violência, apelo sexual, inadequação no horário de exibição e violação da dignidade humana. O Ministério Público advertiu a emissora e a CNBB alertou-a devido o nível do conteúdo do BBB.
O sucesso de público e marketing do BBB movimenta milhões de reais para a emissora, que chega a lucrar mais dinheiro por paredão do que o prêmio final do “herói vencedor”. A emissora segue a conveniência mercadologia: lucrar com propagandas. Milhões de reais que poderiam reverter em construção de casas populares, creches, hospitais, para beneficiar os verdadeiros heróis que labutam todo dia e sobrevivem com um salário mínimo (o trabalhador brasileiro), vai para os cofres da TV Globo. Não quis pressupor que a emissora tenha de cumprir um papel inerente ao Estado. É apenas uma reflexão, uma hipótese.
Depois de algumas semanas de bizarrices, exposição da vulgaridade e cenas de promiscuidade, eliminados um a um, o programa chegou ao final com três finalistas. A mais nova famosa, milionária da vez é a atriz e suposta garota de programa, Maria (conforme mostram vídeos vazados na internet). A “heroína” ganhou um milhão e meio de reais, por escolha do voto popular, supostamente, e entra na lista dos famosos que são tratados como celebridades globais e bajulados como artistas renomados, até começar a próxima edição...

Assisti ao programa é um direito de cada um. Aliás, programa desta categoria é mantido por que tem público assistindo. A maioria ou parte dos telespectadores tem preferência por conteúdo populesco, pelo vulgar (fofoca, intrigas pessoais). A TV brasileira está saturada e demasiada destes gêneros. É uma forma de entretenimento. No entanto há outras formas proveitosas e interessantes de se entreter...

Por isso que o discurso neoliberal da livre escolha: o telespectador tem o controle nas mãos, o controle remoto - está insatisfeito muda de canal - não é justificativa convincente, pois o nível de qualidade da programação da TV brasileira está no mesmo patamar, salvo raras exceções. Programas educativos, informativos e culturais que primam pelo fomento do aprendizado, por valores éticos, estão em emissoras pequenas, de pouca audiência (TVE, TV Cultura, Futura) ou passam em horários inconvenientes (para o telespectador mais exigente) nas grandes emissoras, que exploram uma concessão pública para veicular conteúdo inescrupuloso e questionável, como este reality show de banalização.